Francolino, o barbeiro de 94 anos (72 de profissão) em plena atividade, no Mercado de Arte Popular

12/7/2019, 9:24h | Foto: Washington Nery

O barbeiro Francolino Pereira Rocha é do tempo no qual o MAP, com suas quase 30 grossas colunas e paredes feitas para não cair de tão largas, era ocupado por vendedores de farinha, carne, feijão. Aliás, o hoje entreposto cultural tem apenas dez anos a mais do que este seu inquilino desde a transformação de Mercado Municipal para Mercado de Arte Popular. O equipamento da Prefeitura é administrado pela Secretaria de Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico.

Aos 94 anos – o MAP foi inaugurado em 1914/1915, seu Francolino não aparenta a idade que tem e trabalha todos os dias com disposição de dar inveja a muitos garotões – tendo ele como parâmetro - de 70, 60, 50 anos. É barbeiro há 78 anos, menos da idade que aparenta. Diz não ter a fórmula para se manter por tanto tempo na ativa. “Só vontade de trabalhar, porque as contas não param de chegar”, brinca.

Conta que todos os dias caminha da sua casa, próximo ao Marajó, para o MAP. E sempre devagar. “Sempre caminhei devagar, lentamente. E hoje, com a idade, tô mais lento ainda”, ri. “Desejo trabalhar até quando der”. O der não inclui guardar numa caixa tesoura, navalha, máquina de cortar cabelo e outros instrumentos de trabalho.

É pai de 21 filhos – com quatro mulheres diferentes. Apenas um deles, que morreu há cerca de dez anos, se tornou barbeiro. “Nunca bebeu, fumou ou perdeu noite. A diversão dele a gente da pra ver qual era”, diverte-se o irmão Vivaldo, mais conhecido como Lili, seu companheiro de labuta há mais de meio século. “Apenas 15 estão vivos”.

Os olhos do velho barbeiro brilham e um sorriso aparece quando orgulhosamente afirma que grande parte dos seus filhos estão formados. “Tenho filha enfermeira e um filho advogado”. Na parede um convite para a formatura de uma neta, em economia. Compreensivelmente não tem como esconder a satisfação que sente, visto que estudou muito pouco.

Antes, durante décadas sua barbearia funcionou na rua Conselheiro Franco – quando esta ainda era chamada de rua Direita, quando aprendeu a profissão aos 16 anos. Depois se instalou na Sales Barbosa, de onde se transferiu para o MAP. “Vi todas as reformas do Mercado”. Revela que conseguiu a vaga no MAP porque tinha amigos influentes na política local.

As suas cadeiras da marca Ferrante, de modelo antigo mas muito conservadas, tem a mesma idade do MAP. E nas suas outras barbearias sentaram muitos conhecidos, como os ex-prefeitos Colbert Martins da Silva, de quem era compadre, e Eduardo Fróes da Motta.

Nos últimos anos viu a sua clientela cair pela metade. “Muitos morreram ou preferiram, com a idade, fazer o cabelo em barbearias próximas das suas casas”. Afirma que as máquinas facilitaram o ofício. 
Mas admite que não domina bem os cortes modernos, adotados pelos jovens. “Aqueles riscos na cabeça são difíceis de fazer”. É sentado nas velhas cadeiras de assentos vermelhos que espera a clientela. Cada vez menor por causas naturais ou a perdeu para a modernidade.



  •