ESTAFETA, ENGENHEIRO, CANDIDATO A PREFEITO, PRESIDENTE DO FLUMINENSE E PALHAÇO: GERINALDO COSTA

28/5/2025, 8:36 | Foto: Divulgação - Arquivo ZMP
A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade

Calmo e atencioso em qualquer circunstância, Gerinaldo Costa não parece reunir tanta experiência de vida à primeira vista. Mas desde que deixou a zona rural de Serrinha ainda garoto, multiplicou-se para chegar a professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde estudou, se formou, lecionou e se aposentou. Todavia, poucos conhecem a interessante trajetória do engenheiro Gerinaldo Alves Costa.

Candeeiro na sala, família grande — 12 pessoas — na zona rural de Serrinha, ainda sem energia elétrica: foi assim a infância de Gerinaldo. Filho do médio fazendeiro Veridiano Pinheiro Alves e de dona Izabel Carolina Costa Alves, moravam em uma propriedade entre as fazendas Vertente e Torrão de Ouro, pertencentes à família. Em 1957, aos oito anos de idade, começou a estudar com a professora Maria José, sua irmã mais velha, apelidada de Marinalva. Fora da aula, era só brincar.

Aos 10 anos, foi morar com a avó dona Mariquinha, em Conceição do Coité, para estudar no Grupo Escolar Municipal. Ele não esquece a professora dedicada, Marina, que era de Feira de Santana. Estudar era meta do garoto que, aos 12 anos, foi convidado pela tia Aurinha a vir para Feira de Santana. O pai queria seu retorno para ajudá-lo na fazenda, mas a professora Maria Luiza Lima fez uma bela carta que ele guarda até hoje, ressaltando ao senhor Veridiano o interesse e as qualidades de Gerinaldo, o que garantiu sua permanência na cidade.

Fez o quarto ano na Escola Maria Quitéria, na Praça Froés da Mota — “a professora era filha do Sargento Aranha”, lembra — e depois o exame de admissão no Colégio Estadual (hoje CUCA), onde concluiu o ginasial. Estudou Magistério — o Curso Normal — no Instituto de Educação Gastão Guimarães (IEGG), mas antes de concluir resolveu ir para São Paulo: “aqui não havia possibilidade de um bom emprego”, diz. Durante alguns meses, trabalhou como estafeta na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT): “eu entregava telegramas”.

Em 1968, em São Paulo, trabalhou na Telmec, empresa do ramo de eletromecânica, onde já estavam um tio e um irmão. Começou como servente e logo virou apontador. A empresa prestava serviços à LIGHT, similar à Coelba na Bahia. Foi quando conheceu o doutor Rui, engenheiro fiscal casado com dona Peninha — baiana que, sabendo do interesse de Gerinaldo em estudar, conseguiu para ele uma bolsa na Escola Técnica Paulista de Agrimensura. Casou-se em São Paulo com uma baiana de Queimadas, mãe de seus dois filhos.

Em São Paulo, durante quatro anos, trabalhou como topógrafo, retornando a Feira de Santana em 1975, onde abriu escritório na rua Santos Dumont. Voltou a estudar na Universidade Estadual de Feira de Santana, no curso de Técnico de Nível Superior em Edificações e, a partir da luta para transformá-lo em curso de Engenharia, descobriu seu lado político. Atendendo ao convite de Jaime da Cruz, ingressou no diretório do PT, presidido pelo ferroviário Arnaldo Pereira.

Em 1982, o médico Antônio Ozetti foi candidato a prefeito de Feira pelo PT, e Gerinaldo concorreu a vereador — o que repetiu em 1988. Em 1992, foi candidato a prefeito do município ao lado da economista Olga Matos, candidata a vice. Em 1994, disputou vaga de deputado estadual; em 1996, vereador novamente; em 2000, vice-prefeito; em 2002, deputado estadual outra vez; e, em 2008, vereador. Sempre obteve boas votações, mas nunca o suficiente para se eleger — o que jamais abalou sua lealdade à bandeira partidária que ostenta. Hoje, continua firme na militância como presidente municipal do PT. É professor aposentado da UEFS, onde se formou e teve destacada atuação no Diretório Acadêmico.

Torcedor fiel do Fluminense de Feira, onde seu irmão Aderaldo Costa foi diretor da divisão de base, Gerinaldo começou como conselheiro em 1984 e chegou à presidência em 2014, sendo reeleito até 2018. Num período de dificuldades, projetou e iniciou as obras do centro de treinamento do tricolor. Todavia, a versatilidade e o talento têm sido marcas de sua vida. Na época de estudante, foi premiado como Melhor Ator de Feira de Santana em 1978, atuando em peças infantis e adultas no grupo teatral dirigido pelo lembrado Ruy Barcelos, que também contava com o hoje conceituado médico Getúlio Barbosa. “Teatro de Cordel”, “A Função do Casamento” e “Oncilda e Zé Buscapé” foram algumas das peças em que atuou.

Mas o mais surpreendente para quem conhece o engenheiro Gerinaldo Costa talvez seja o fato de ele ter trabalhado como palhaço de circo. Em 1967, adolescente e morando no bairro Baraúnas, fez amizade com o vizinho “seu” Zé, que fabricava jurubeba — bebida muito procurada à época — e com Neve Branca, também fabricante e experiente propagandista de rua. Passou a acompanhá-los em parques de diversões e feiras-livres. Em Jacobina, ingressou no Circo Teatro Show Nordeste, de um cidadão conhecido como Araújo, e começou fazendo mágicas e pequenos papéis. Mas como o circo só tinha um palhaço — “O Polegar”, de 10 anos, filho do dono — Gerinaldo mais uma vez mostrou seu talento.

Adotando o curioso nome de “Chupeta”, Gerinaldo entrou no picadeiro e, durante quase um ano, percorreu cidades baianas “fazendo tudo que um bom palhaço faz”. Chupeta e Polegar formaram uma dupla muito aplaudida, levando diversão a plateias de várias cidades do interior. Com um sorriso alegre, ele garante: “Foi uma das épocas mais felizes da minha vida”.

Por Zadir Marques Porto



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