A Micareta começou a se formar na Rua de Aurora em 1934
No mês de abril, anualmente, Feira de Santana se modifica, tomando proporções gigantescas, efervescendo de alegria e animação. É o período da Micareta, festa momesca fora do roteiro do Carnaval, que é comum em tantas outras cidades brasileiras e, pode-se dizer, no mundo inteiro. A Micareta é uma festa diferente, autenticamente feirense, genuinamente sertaneja, que ganhou enorme prestígio, tanto que hoje acontece em outras cidades brasileiras e até fora do país, em períodos diferentes do Carnaval, que é incomparavelmente mais antigo e “importado”. A Micareta é um produto brasileiro.
Oficialmente, e isso não se discute mais, o início dessa grande folia está datado no ano de 1937, quando ocorreu o último Carnaval da Princesa, evento precedido durante algum tempo pelo Entrudo, de origem portuguesa, que era considerado uma brincadeira violenta e desagradava a muitos. Em 1937, o Carnaval feirense desaparecia para o cenário ganhar o nome que mantém, mas fortes chuvas tiraram o brilho da festa, gerando um adiamento pelo prefeito Heráclito Dias de Carvalho. Posteriormente, com a formação de uma comissão própria, ficou definido que o evento, já titulado como Micareta, ocorreria 15 dias após a Semana Santa, em respeito ao calendário da Igreja Católica.
Nada disso é discutível. Há, no entanto, um detalhe interessante que nunca é enunciado sobre o festejo e que era sempre falado pelo folião fundador e integrante do bloco “As Melindrosas”, Manoel Fausto dos Santos — absolutamente conhecido como Manoel de Emílio, desportista de excelência e fundador do Botafogo de Feira de Santana, sua paixão ao lado da Micareta.
“A Micareta começou em 1937, mas em 1934 ela já era realizada pelos rapazes da Família Fadigas na Rua de Aurora”. Conforme Manoel de Emília, embora a cidade comemorasse o Carnaval em 1934, “os rapazes da Família Fadigas fizeram a festa pela primeira vez na Rua de Aurora”. Assim, quando foi organizada a Micareta por uma comissão, contando com os nomes de Maneca Ferreira, João Bojô, Oscar Marques, dentre outros, a semente já havia sido lançada e germinou fortemente, tornando-se uma frondosa festança.
Aqui não há objetivo de contestação quanto ao surgimento da Micareta. Apenas ressalto a importante informação do saudoso Manoel de Emília, cuja respeitabilidade sempre foi reconhecida, sobre a participação da Família Fadigas na origem da festa. Não existem registros sobre o fato, até porque não haveria motivo para isso, tratando-se de uma brincadeira de jovens, talvez não interessados no Entrudo, tampouco no Carnaval. Fica, portanto, como uma lembrança, nada mais do que uma informação do âmago da maior festa momesca do mundo, fora do Carnaval: a Micareta!
Por: Zadir Marques Porto