ZÉ DA FOTO, O PRIMEIRO LAMBE-LAMBE, LEMBRA COMO COMEÇOU NA ARTE FOTOGRÁFICA

Caminhando para 92 anos de idade, com agilidade e vitalidade de um rapaz de 25 anos, o pernambucano Zé da Foto (José Viana da Silva Neto) garante que foi o pioneiro na fotografia “lambe-lambe” — o primeiro a se instalar na Praça Bernardino Bahia, isso há mais de 70 anos. Constituiu família, com prole numerosa, e até hoje vive da atividade, não se separando de uma Nikon. Zé da Foto relata um pouco da sua vida, que reflete bem a história de um fotógrafo lambe-lambe.
José Viana da Silva Neto, 91 anos de idade e já beirando os 92, o Zé da Foto, pernambucano do município de Bom Jardim, mas muito mais baiano, uma vez que aqui chegou aos oito anos de idade, garante que foi o primeiro fotógrafo lambe-lambe na Praça Bernardino Bahia, que durante muito tempo foi conhecida como “Praça do Lambe-lambe”. Ele não precisa com exatidão quando foi isso, mas, com base nas suas informações, o caso pode ficar praticamente esclarecido. Se ele começou na profissão como diz, com cerca de 20 anos de idade, e hoje tem 91 anos, então ele chegou à praça há 71 anos ou um pouco antes disso, na década de 1950.
Garante que o início foi bastante difícil. “Na verdade, aqui era a feira-livre, onde se vendia feijão, farinha, arroz, milho e muitos produtos da zona rural, o movimento era grande, mas pouca gente conhecia um fotógrafo. Eu me instalei ali” — indica uma palmeira, no lado direito da praça, que ele acredita ser a mesma da época em que começou a trabalhar no local. Na verdade, existiam duas palmeiras e uma foi suprimida devido a uma doença. As fotografias 3 x 4 foram as primeiras que ele fez e eram muito procuradas para documentos. “Uma foto custava trinta centavos, coisa assim, mais ou menos”, lembra. Havia também as fotos 6 x 9, 9 x 12 e 13 x 19. “Nas fotos 13 x 19 eu tinha que usar o ampliador que eu havia comprado”, explica.
José Viana, Zé da Foto ou Zé do Foto, relata que aprendeu a arte fotográfica a partir dos 13 anos de idade, com um rapaz de Serrinha cujo nome já não lembra, e sua primeira máquina foi do tipo “caixão” que ele mesmo fabricou utilizando caixas de papelão. Garante que o trabalho nessa máquina era eficiente e rápido e que uma foto era entregue em questão de minutos, usando duas banheiras e “em três minutos o freguês recebia a fotografia”. Jovem e começando na atividade, tinha que ser paciente com algumas pessoas que chegavam à praça para ser fotografadas, principalmente estudantes.
“Vinham muitas estudantes de uma escola ali perto da Prefeitura Municipal (Ginásio Santanópolis), na hora de bater a foto elas ficavam brincando, fazendo caretas e pulando”, lembra. Já as pessoas oriundas da zona rural e municípios próximos geralmente ficavam sérias e algumas acanhadas, mas no final “tudo corria bem”. Todo o material por ele usado na época — filmes, papel, produtos químicos — “eu comprava na loja de um rapaz na Rua Direita, hoje Rua Conselheiro Franco” (era a Casa Esportiva de Gerson Bullos).
Apesar da pouca instrução, José Viana da Silva Neto firmou-se como fotógrafo lambe-lambe, constituiu família, casando-se com Doralice Ferreira Lima, de Jeremoabo, que lhe deu 10 filhos. De uma segunda relação, com a senhora Maria das Graças, ganhou mais seis filhos. Não esconde que tinha suas “coisas por fora”, totalizando 17 filhos, pelo menos é o que ele sabe. Sem vícios, “só bebia em festas quando estava trabalhando e o dono da casa oferecia, mas era uma vez só”, relata. Torcedor do Corinthians, o único time que ele gosta, diz que era um bom goleiro, apesar da pouca estatura, tendo jogado quando era garoto em locais como Venda Nova, Jaguarari, Carrapichel, na região Norte, entre Juazeiro e Petrolina, que ele afirma gostar muito, principalmente pela existência da ponte ligando as duas cidades e os estados da Bahia e Pernambuco. “É uma região muito bonita, que eu admiro.”
Caminhando para os 92 anos de idade, com robustez e agilidade admiráveis, Zé da Foto diz que ainda joga futebol. “Não sou bom, mas se precisar, jogo”, dança e gosta de forró, principalmente quando se trata de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mas ouve também com satisfação Roberto Carlos. “Gosto do que é bom.” Em atividade até hoje, não se separa de uma Nikon como se fosse a sua identidade. Embora tenha casa própria no bairro Caseb, aqui em Feira de Santana, é mais fácil encontrá-lo em Amélia Rodrigues. “Chegando lá é só perguntar por Zé da Foto, até as crianças me conhecem.” Vez por outra, ele aparece na praça do lambe-lambe. “É só pra lembrar, porque daquele tempo não tem mais ninguém”, conclui saudoso.
Por Zadir Marques Porto