UM POUCO DA HISTÓRIA DO FLUMINENSE EM SETE DÉCADAS NO FUTEBOL PROFISSIONAL

12/6/2025, 11:4 | Fotos: Arquivo Flu de Feira e Zadir Porto
A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade

A inédita prisão do time na antiga Fonte Nova, o presidente que distribuía a renda dos jogos com os atletas, as "armações" — principalmente de Bahia e Vitória — para prejudicá-lo, a cessão de jogadores para a seleção baiana que representou o Brasil no Chile, o mérito da disciplina em campo... são pequenos retalhos da história do Fluminense que hoje poucos conhecem, mas que dizem muito sobre a trajetória tricolor em 71 anos de profissionalismo.

Primeiro clube do interior a disputar o Campeonato Baiano de profissionais, a partir de 1954, e a ser campeão estadual em 1963 e 1969, atualmente lutando para retornar à primeira divisão, o Fluminense de Feira Futebol Clube (FFFC), nesses 71 anos de futebol profissional — dentro dos seus 84 de existência — reúne episódios, no mínimo, interessantes, alguns dos quais são praticamente desconhecidos dos seus torcedores e de desportistas da geração atual.

O Tricolor, fundado em 1941 por um grupo de amigos — tendo à frente a rapaziada da família Falcão (filhos de João Marinho Falcão) — estreou no profissionalismo no dia 6 de junho de 1954, no antigo estádio da Fonte Nova, empatando com o Vitória em 1 x 1, com gol marcado por Alfredo Cezarinho, pai do cronista esportivo Alfredo Cezarinho. No mesmo ano, o time tricolor, de forma inédita no futebol baiano, foi preso. Isso ocorreu na Fonte Nova, em um jogo com o Ypiranga. O Flu perdia por 2 x 0 e iniciou a reação, marcando o primeiro gol validado pelo juiz Peixoto Nova e anulado pelo auxiliar Zago.

Revoltado com o fato, o diretor técnico Ariston Carvalho autorizou os jogadores a sentarem no meio do campo. Diante dessa decisão, o árbitro chamou a polícia, que prendeu o time tricolor. Mas o prestígio do clube aumentava. Em 1956, com apenas dois anos de profissionalismo, o Flu foi vice-campeão baiano, realizando 37 jogos, com 21 vitórias, nove empates e sete derrotas. Marcou 75 gols e sofreu 34, ficando com saldo de 41. A decisão, em três jogos, foi contra o Bahia, que ficou com o título.

Em 1957, o clube feirense teve como motivo de orgulho ceder vários atletas para a seleção baiana que representou o Brasil na Taça Bernardo O’Higgins, disputada em Santiago do Chile, e venceu o torneio. Peri-Peri, Valder, Raimundinho, Elias e Valter Vieira foram os jogadores do Flu convocados. Em 1963, o Fluminense conquistou o título de campeão baiano. Em 1968, com um time "arrumado" de última hora, devido a vários desfalques, o Tricolor foi vice-campeão estadual. Em 1969, voltou a ser campeão, e em 1971 foi novamente vice. Todavia, em 1972, já consagrado como Touro do Sertão, o clube esteve seriamente ameaçado de acabar. O elenco foi negociado — a maioria dos jogadores foi para o Bahia — e o número de atletas ficou insuficiente para registro na FBF. O comerciante Cloves Cedraz e um grupo de jovens dirigentes conseguiram garantir a vida do tricolor, que, para completar o número de profissionais, inscreveu até ex-jogadores.

No certame de 1971, "garfado" em vários jogos por arbitragens pró-Bahia, o Fluminense teve o mérito de disputar 30 partidas sem um só jogador expulso. Em 1967/1968, o técnico carioca Walter Miraglia levou para o Flamengo o zagueiro Mário Felipe (Onça) e o atacante Neviton (Neves), trazendo para Feira: Ubirajara, Mário Braga, Sapatão, Nico, Merrinho, João Daniel, César Marques, Osmar e Messias — uma troca que terminou sendo favorável ao Touro. Um fato marcante ocorreu com Chumbinho, ponteiro do Fluminense, vítima da maldade do zagueiro do Bahia, Roberto Rebouças, conhecido pela violência e deslealdade em campo. Depois de operado e recuperado do joelho direito, atingido por Roberto, Chumbinho fez os 110 km entre Feira e Salvador a pé, pagando promessa na Igreja do Senhor do Bonfim.

Joselito Julião Dias — empresário conhecido como Juca Dias —, já falecido, foi um dos mais importantes dirigentes do Tricolor e adotou, como medida de incentivo, durante bom tempo, a distribuição da renda que cabia ao clube entre os jogadores. O Fluminense foi muito prejudicado por arbitragens no campeonato estadual e até fora da Bahia. Um desses episódios ocorreu no jogo com o Vitória do Espírito Santo, pelo Campeonato Nacional, amplamente conhecido como "o jogo das cocadas". Depois, contra o Vitória, na Fonte Nova, o Flu perdeu o título para o decano. O jogo havia terminado, mas um dirigente do Vitória obrigou o árbitro a reiniciar a partida. Essa é uma sinopse de alguns momentos vividos pelo Touro do Sertão.

Por Zadir Marques Porto



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