AS FILARMÔNICAS DE FEIRA CUMPRIRAM PAPEL IMPORTANTE EM TEMPOS ÁUREOS

22/5/2025, 8:36 | Foto: Jorge Magalhães - Arquivo
A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade

A partir de 1868, saxes, clarinetes, trompas, trombones, bombos, tambores da Filarmônica 25 de Março deram um novo colorido à vida de Feira de Santana, com seus estimados 11 mil habitantes, a maioria ainda residente na zona rural. Depois vieram a Filarmônica Vitória e a Euterpe Feirense. Essas orquestras populares, hoje esquecidas, já tiveram grande importância para o público, assim como hoje têm os grupos musicais da atualidade.

Na vida, tudo tem o seu tempo e a razão de existir. Assim, as "philharmônicas", escritas dessa forma, durante muito tempo foram responsáveis pela animação de festas populares e indispensáveis a eventos de cunho oficial, como inaugurações, aniversário da cidade, visitas de autoridades, datas religiosas e comemorativas, a exemplo do 7 de Setembro. As grandes cidades, como também outras de menor porte, tinham essas representações musicais. Sem o rock, o funk, o pop e outros gêneros capazes de mobilizar multidões, que só iriam surgir muito tempo depois, esse papel era exercido por essas orquestras populares.

Os dobrados, valsas, polcas e, às vezes, um fox-trote americano faziam a festa e a alegria de todos, ricos e pobres, ou vice-versa. Não havia obrigatoriedade de um número preciso de componentes, como ocorre com trios, quartetos, sextetos e outros grupos instrumentais e vocais, mas trompas, trombones, saxofones, tubas, clarinetes e flautins sempre estavam presentes ao lado de outros instrumentos de sopro e os igualmente indispensáveis bumbo, tambor, caixa, pratos e outros responsáveis pela marcação ou ritmo.

Feira de Santana, então com estimados 11 mil habitantes e até então ouvindo os grupos musicais de cidades do Recôncavo, surgidas muito antes e que aqui se apresentavam ocasionalmente, em 25 de março de 1868 declarou a sua "independência" musical com o surgimento da Filarmônica 25 de Março, assim nominada como um preito à data de fundação da instituição. Estão na sua história, como fundadores: Eduardo Franco, Afonso Nolasco, João Manoel Laranjeira, Alípio Dantas, Antônio Joaquim da Costa, Tibério Constâncio Pereira, José Pinto Santos, Joaquim Sampaio, Juvêncio Erudilho, Alexandre Ribeiro, Francisco Costa, Pedro Nolasco, José Nicolau dos Passos e Galdino Dantas. Outros feirenses não relacionados devem ter participado dessa importante iniciativa ocorrida há 157 anos.

O reinado absoluto da Filarmônica 25 de Março, com portentosos músicos e a fidelidade de centenas ou milhares de admiradores, foi quebrado cinco anos depois, a partir de 1873, com a fundação da Filarmônica Vitória. O jogo democrático presente no espírito do povo brasileiro possibilitou uma nova opção para a cidade graças à decisão do padre Ovídio Alves de São Boaventura, vigário da Freguesia de Santana, que se notabilizou pela bondade e empreendedorismo social em prol dos menos favorecidos. A terceira instituição musical do gênero surgiu no século posterior, a Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense, datada de 17 de dezembro de 1921, sob a liderança de Leolindo Ramos Júnior.

Embora os dias áureos das filarmônicas já tivessem passado, ou quase isso, a Euterpe também teve relevância como instituição musical e clube social e, nesse particular, muito mais, já que é o único funcionando em Feira de Santana. Estêvão Moura, Tertuliano Santos Silva, Manoel Tranquilino Bastos, Onório Rios, Álvaro Lima, Aloísio Pimenta, Armando Nobre, Nilo Pereira de Souza, Antônio Menezes foram alguns dos maestros que marcaram a regência dessas filarmônicas.

Fatos marcantes pontilharam a vida das filarmônicas da cidade Princesa do Sertão. Coube à 25 de Março saudar os soldados desta cidade que integraram o batalhão do Exército Brasileiro designado para combater as forças de Antônio Conselheiro na denominada Guerra de Canudos, em 1897. Retornando a Feira de Santana, os filhos da terra de Senhora Santana foram entusiasticamente recepcionados. Durante a II Guerra Mundial, evento que abalou toda a sociedade, a Micareta, de criação ainda recente, foi mantida pela Filarmônica 25 de Março, com três concorridos bailes em sua sede na Rua Direita (hoje Conselheiro Franco), nos dias 15, 16 e 18 de 1944.

Todavia, mais notável foi a participação da mesma corporação musical no I Campeonato Nacional de Bandas promovido em 1977 pelo Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, quando, mesmo seriamente prejudicada por um dos maestros da comissão julgadora — que teria dado uma nota inferior para beneficiar outra instituição, como foi largamente comentado na época — obteve o segundo lugar, perdendo apenas para a filarmônica representante do estado de São Paulo, que obteve a nota 8,76, enquanto a 25 de Março ficou com nota 8,6.

Mas, para o público e músicos presentes, a orquestra popular feirense merecia ser a vencedora. Na comissão julgadora, os maestros Celso Woltzlogel, Henrique Morelembaum e Alceo Bocchino conferiram nota 9 para a banda musical feirense e, estranhamente, o maestro Júlio Medaglia — o que mais elogios havia feito à Filarmônica 25 de Março — concedeu-lhe um 7, a menor nota. O fato foi entendido como uma decisão bairrista do maestro, para o qual uma banda musical do interior da Bahia não poderia ganhar da representante de São Paulo! Mas a magnífica e louvável presença feirense no certame musical é parte inapagável da sua história!

Por Zadir Marques Porto



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