Dival Pitombo relata progresso de Feira a partir da década de 40

10/5/2018, 11:22h |

No início da década de 40, na Revista Serpentina de abril de 1941, o professor Dival Pitombo, conta o avanço que a Feira de Santana já experimentava há 77 anos. E chega a dizer no seu texto com o título Matamorfoses: “E’ como se uma fada a tocasse com a sua varinha magica e de um momento para outro tudo o que estava parado começasse a mover-se, crescer, colorir-se de uma vitalidade nova e verdadeiramente miraculosa”. Vale a pena ler de novo (Adilson Simas) 

METAMORFOSES

Ha qualquer coisa de maravilhoso e surpreendente no surto de progresso porque vai atravessando a Feira. 

Ela já não é a cidade-garota dos bairros líricos onde violões boêmios enchiam de harmonias as noites de luar na mais adorável simplicidade provinciana. 

Já não encontramos aqui, aquele cunho de cidade sertaneja que a caracterizava. 
Cresce e civiliza-se. 

E, como se uma fada a tocasse com a sua varinha magica e de um momento para outro tudo o que estava parado começasse a mover-se, crescer, colorir-se de uma vitalidade nova e verdadeiramente miraculosa. 

Rasgaram-se avenidas, abriram-se escolas, estradas inúmeras como longas «serpentes de jaspe» levaram aos quatro ventos, a lama de uma hospitalidade que já se ia tornando tradicional.

E a cidade foi perdendo rapidamente tudo o que ainda lhe restava do antigo povoado de D. Ana Brandôa. 

As suas longas avenidas nada têm de provinciano, os seus parques outrora sombrios e melancólicos, estão inundados de luz; e a alegria radiosa da juventude das escolas forma como que uma aureola cintilante de Vida e de Graça. 

Uma verdadeira febre de construção vai possuindo a população; e os bairros novos vão surgindo numa verdadeira sinfonia de cores tecendo uma moldura rica e graciosa na paisagem. 

Ha os bairros operários onde habita modestamente a classe pobre: - casinhas enfileiradas como um longo rosário colorido. Todas as manhãs, o cortejo processional da gente para o trabalho. 

Movimento. O bom humor sadio do povo passando nas ruas embandeiradas de roupas secando ao sol. A noitinha sob a paz das estrelas, as serenatas tradicionais num lírico ambiente de aldeia. 

O bairro comercial em movimento constante reflete o dinamismo do povo. Pratico, movimentado, ele é sempre a parte que concentra toda a vida ativa da cidade. 

E por fim os bairros aristocráticos. As longas avenidas senhoriais marginadas de construções elegantes onde vive gente abastada. 

Mudou muito a minha Feira. 

Não mais cidade adolescente e romântica sonhando diante dos crepúsculos maravilhosos. 

Não mais simplicidade encantadora de sertaneja nova e inconsciente de sua beleza. 

Cresceu. Estudou. Encheu-se de adornos e de ciência. Ficou mais bonita talvez. 

Mas o teu poeta ó minha bela terra, já não poderia hoje chamar-te de “Cidade do Silencio e da Melancolia”.