FEIRA EM HISTÓRIA: A evolução da micareta ao longo do tempo

14/2/2018, 19:3h |

A  MICARETA NO TEMPO 

Adilson Simas 

A primeira festa momesca em Feira com o nome Micareta foi aberta no sábado, 27 de março de 1937, com o mesmo ritual dos tempos atuais: coroação das majestades e entrega das “chaves” da cidade ao Rei Momo. Era prefeito, Heráclito Dias de Carvalho [na foto abaixo].

Foto: Heráclito Dias de Carvalho era o prefeito da cidade na primeira Micareta

Nos clubes, principalmente “25 de Março” e “Victória”, na famosa “Rua Direita”, hoje Conselheiro Franco, foram realizados bailes a fantasia reunindo a sociedade local, da região e até gente da “Bahia” (alusão aos moradores da capital).

Nas ruas, em especial também na “Rua Direita”, que foi o primeiro “quartel general” da folia, blocos, cordões, mascarados e batucadas (“As Melindrosas”, “Flor do Carnaval”, “Amantes do Sol”, etc) se encarregaram de encher de brilho o que hoje se denomina “sitio da festa”.

Ao longo do tempo, a micareta deixou de acontecer em razão da Segunda Guerra Mundial, e em 1964 por conta do “Golpe Março”. Mas em 1945 só não houve folia de rua, pois a “25 de Março” publicou edital anunciando a realização de quatro grandes bailes.

Concebida por personalidades notáveis da cidade, como Antonio Garcia, João Bojô, Mestre Narcisio, Maneca Ferreira, Manuel de Emilia, Álvaro Moura, Arlindo Ferreira e seguidores como Oscar Marques, Gilberto Costa, Carlos Marques, Ildes Meireles, Joselito Julião Dias, Osvaldo Franco e tantos outros escolhidos para presidi-la, a maior micareta do Brasil, cresceu e avançou.

No começo dos anos 70, na gestão do prefeito Newton Falcão, a prefeitura criou uma diretoria especial e assumiu totalmente a festa em 1971, “aposentando” as tradicionais comissões organizadoras que com o famoso “livro de ouro” visitavam pessoas e empresas buscando os recursos que bancavam a folia.

Ainda naquela década o prefeito José Falcão criou a Secretaria de Turismo para cuidar de toda a programação. Na seqüência, em 1975, instituiu concurso para a escolha do Rei Momo, não mais trazendo “Ferreirinha”, o Rei Momo do carnaval de Salvador. Já o prefeito Colbert Martins criou os primeiros camarotes e arquibancadas.

A micareta soube acompanhar os avanços da cidade. Os bailes à fantasia trocaram os salões da “25 de Março” e “Victória”, pelos amplos e modernos da Euterpe Feirense, Feira Tênis Clube, Clube de Campo Cajueiro e outros menores como Clube dos Comerciários, Ali Babá, Clube dos Sargentos e Clube dos Trabalhadores. Ressalte-se que Tênis e Cajueiro, criaram os bailes pré-micaretescos, “Uma Noite no Hawaí” e “Caju de Ouro”,  respectivamente.

Os desfiles e a animação popular, no começo na “Rua Direita” (desde a Conselheiro Franco até a Tertuliano Carneiro), chegaram às praças da Bandeira e João Pedreira, se expandiram pela avenida Senhor dos Passos e quando davam sinais que ocupariam toda a extensão da longa avenida Getulio Vargas, foram transferidos em 2000, na ultima micareta do milênio, para a avenida Presidente Dutra, na administração do prefeito Clailton Mascarenhas, que promoveu as primeiras melhorias.

Eunice Boaventura foi a primeira rainha da Micareta de Feira

O espetáculo do préstito momesco com ricos carros alegóricos (os últimos nasceram da imaginação do artista Charles Albert), conduzindo rainha e princesas arrancando aplausos - entre elas e em tempos diferentes, Eunice Boaventura, Doralise Bastos, Helenita Tavares, Sonia Cerqueira, Alda Lima Coelho, Maria Angélica Caribé, Ana Maria Nascimento e Sônia Menezes - cederam lugar aos carros sonoros conduzindo moças e rapazes com coloridas mortalhas do “Bloco do Caju”, “Fetecê”, “Mendonça” e outros.

Os blocos e batucadas, das primeiras folias, foram ganhando sucedâneos, de diversas origens, como o  “Pinta Lá”, dos servidores públicos municipais; os trio-elétricos, como o pioneiro “Patury” de Péricles Soledade, nos anos 50, deram lugar a máquinas potentes como a da banda “Chiclete com Banana”; as marchinhas de compositores da cidade (Carlos Marques, Juca Oliveira, Estevam Moura, Gastão Guimarães, Eliziário Santana, Adalardo Barreto, Arlindo Pitombo, Aloísio Resende, Dival Pitombo, Alpiniano Reis, Honorato Bonfim e outros), saíram de cena dando espaço a letras interpretadas por  “furacões” como Ivete Sangalo.

As escolas de samba e os cordões de antigas micaretas abriram alas para “Malandros do Morro”, “Unidos de Padre Ovídio”, “Império Feirense”, “Os Formidáveis” e “Marquês do Sapucaí”, que à exemplo das antecessoras entregavam a autoria dos seus enredos à nova geração de compositores da terra, entre eles Carlos Piter, Vadu, Roberto Pitombo, Edson Bonfim, geralmente pregando o grito de liberdade, ou exaltando o mundo do candomblé.

Eventos que anunciavam mais uma festa de momo, como “Grito de Micareta nos Bairros” com os cantores locais interpretando antigas e novas marchas e ranchos e o “Baile dos Artistas”, este surgido no final dos anos 60, reunindo os meios artístico-culturais e convidados ilustres, as vezes com transmissões ao vivo, foram substituídos por “levadas” e “feijoadas”, da mesma forma reunindo foliões e artistas, dias antes da abertura da festa.

Por fim, no lugar dos antigos serviços fixos de som, narrando a folia registrada nas ruas - “SPR Constelação, a voz do sertão, falando diretamente da marquise da Loja Pires para onde abrange toda a sua rede sonora” -, as numerosas equipes das emissoras de rádio e televisão transmitindo em tempo real, para a Bahia, o Brasil e o Mundo, os lances de uma micareta que preserva do passado a grande animação dos foliões.