FEIRA EM HISTÓRIA: Crônica destaca os atrativos turísticos de São José na década de 60

5/2/2018, 14:46h |

O professor José Maria Nunes Marques dedicou a maior parte de sua vida às questões educacionais. Lecionou em várias escolas, comandou colégios, foi secretário municipal de educação, primeiro diretor da Faculdade de Educação de Feira, membro do conselho diretor da Fundação Universidade, pró reitor e reitor da Uefs. Colaborador dos jornais locais, principalmente Situação e Feira Hoje, brindava os leitores narrando o cotidiano da cidade. Em 1967, na crônica “Domingo em São José” ele tratou da beleza da lagoa localizada dentro da sede do distrito. Vale a pena lembrar (Adilson Simas).

José Maria Nunes Marques 

- Uns poucos quilômetros de asfalto novo separam Feira da cidadezinha de São José das Itapororocas, onde se entra por um “bequinho estreito”, composto em verdes pelas árvores, com um segundo plano encantador nas linhas branco-acinzentadas da igreja, de lado, alta e grande em relação à pequenez do casario circundante. Ao sol é um sonho de pintor paisagista, de qualquer antigo e desprestigiado copiador da natureza.

As pessoas do lugar, que por ali passam cada dia, certamente não vêem, ou talvez sofram a mesmice, o desencanto que envenena o que é visto, revisto, esmiuçado, despido, virado e revirado mil vezes, tornando-o pesado e indexável. Para o visitante, porém, é uma sugestão tranquila e boa de paz campestre. Pela entrada de São José das Itapororocas só passa um carro de cada vez. E isto é um dos seus encantos. Vencida a estreita passagem estamos em uma enorme área, que é quase tudo, malhada, feira e praça, tendo a igreja ao centro com um pequeno campanário junto, e logo o mercado da feira, de forma circular, coberto de palha.

As casas se ajuntam em pelotões compactos e quase fecham um quadrado. Não fosse a fragilidade infinita que sugerem, assim toscas e iguais como as casas do sertão, e poder-se-ia dizer que formam uma praça forte, embora com um flanco desprotegido. O tempo corre aqui mais vagaroso.

Há no chão verde e terra, o destaque de homens, cavalos e ovelhas pela malhada. Garotos de pés descalços, carregando badoques, vão passarinhar.

Lagoa de São José foi durante anos um atrativo na região

Do outro lado, poucos metros de estrada, está a placidez da lagoa de S. José, contra o verde do que chamam de serra, única elevação na grande planura feirense, a brisa é suave sobre a lagoa e a sombra dos cajueiros silvestres é amável e convidativa. O espírito se tranquiliza – sem qualquer pílula – quando os olhos descansam na face negra da água, levemente franjada.

Ainda que o sol seja o de sempre, agreste, forte, vivo até o exagero, a lagoa lhe empresta amenidade e contraste. E a alma inquieta afasta ou esquece o vir a ser ansioso em que se exaure, para sonhar coisas estáveis, prontas, realizadas. Apenas ser, sem qualquer compromisso para o próximo instante. Sentar aqui e “esperar D. Sebastião, quer venha ou não”.

Um homem deste século vinte, que enfrenta seu 67º ano, quanto minutos pode entregar o pensamento à brisa que passa pela lagoa, em S. José das Itapororocas, e libertar-se do jugo de seus desejos!? Quantos segundos!?

A lagoa, satisfeita consigo mesmo, é uma lição. Parece feliz pela oportunidade que tem agora de doar-se muitas, distribuindo prodigamente seus dons, suas riquezas de cores e sugestões. A alegria de acolher. Sua felicidade não é feita de desejos sucessivos, sempre adiada e asfixiante como a que o homem inventou, mas é bem outra, suave, boa e certa, alguma coisa assim como o instante nos olhos dos que se olham e esquecem.

No entanto, nem tudo são divagações às margens da lagoa de S. José, fresca como um oásis. Há coisas mais objetivas, como gente, o banho ou o passeio de barco, um barco tosco, com cerveja gelada, e ainda é possível, sem muita diligência, encontrar uma ou outra ninfa desgarrada, quando menos capaz de entreter o alegre jogo da conquista. Na praia os locais para o esporte estão separados, o que permite certa tranquilidade aos banhistas.

A estrada segue até o fim da lagoa, e quem chega ao ponto mais distante encontra, entre árvores frondosas, inclusive uma bela “cajaeira”, curiosa churrasqueiras erguidas pelo chão, nas quais se pode preparar um bom almoço de piquenique.

São José das Itapororocas, ali junto de Feira é um encanto natural já humanamente abençoado com as vantagens de algum conforto moderno, que favorece o turismo, a circulação do dinheiro e, de quebra, alegra o coração dos mortais.