FEIRA EM HISTÓRIA: "Requiem para uma Feira"

8/1/2018, 15:13h |

Esta quarta-feira dia 10, lembra que há 41 anos aconteceu a transferência da secular feira-livre do centro da cidade para o Centro de Abastecimento, ocorrida no dia 10 de janeiro de 1977, que naquele ano caiu numa segunda-feira. Foi um fato histórico, que marcou e dividiu a cidade entre favoráveis e contrários. Além do amplo noticiário sobre o acontecimento, o jornal Feira Hoje na sua edição seguinte, de nº 813, publicou um artigo que o jornalista, advogado, poeta e cordelista Franklin Machado [na foto acima] assinou com o título “Requiem para uma feira”, que vale a pena ler de novo quatro décadas depois:

– Somente a natureza amanheceu chorando ontem.

Na praça principal, a azáfama da feira-livre se repetia como em toda segunda-feira.

Ninguém diria se não soubesse que aquela seria a última feira ali, depois de uns duzentos anos.

E ali a feira se despedia sem solenidade.

Como um general que ganhou a guerra e se aposenta sem querer receber nenhum louro. Como um filósofo que sabe serem essas coisas efêmeras. O que vale é o registro histórico.

O tempo chorou, mas sabemos que amanhã é um novo dia.

E o sol nascerá radioso, brilhante.

Logo, a feira não se acabou. Apenas, muda de local.

Um local que ainda está meio escondido, pois lhe faltam as vias de acesso projetadas e a visão psicológica de quem chega na praça e não a vê. Como no velho costume.

Somente um bequinho por entre o Umuarama Hotel (quer dizer reunião de amigos em tupi-guarani) e a Loja Pires junto, justamente, à Visão.

O último dia da feira passou em brancas – nuvens, como nos lembrou o ex-radialista Lucílio Bastos (hoje se revelando um cronista das coisas e gentes feirenses).

E o comerciante Carlos Marques que, talvez, se estivesse nos seus tempos carnavalescos de rapaz, faria uma marcha sobre o acontecimento.

Aliás, retruquei “brancas nuvens”, não, pois as nuvens estavam escuras da chuva.

A hora não é para saudosismo nesta Feira que se industrializa, que se asfalta em ruas e estradas, que se alteia, arranhando o céu.

Mas a feira ali dava qualquer coisa de original e único. De coisa bem personalística como seu nome: Feira de Santana!

 

Nome que começa com seu começo. Em torno da capelinha de Sant’Anna, da fazenda Olhos D’água, dos velhinhos portugueses Domingos e Ana Brandão.

Ali na estrada de São José das Itapororocas para Cachoeira, feirinha dos tropeiros, dos boiadeiros, dos vaqueiros, dos mascates, etc.

História oficial que hoje também está sujeita às mudanças pelos estudos do Monsenhor Renato Galvão.

Não vamos mais ficar a lamentar ou a rememorar fatos, uma vez que nós feirense somos gente portuguesa acostumada a sair pelo mundo para criar mundos.

Gente afeita a olhar para o futuro, mas chorando nos fados tristes.

Foram esses novos feirenses José Falcão da Silva e Lindalvo Farias que tiveram a coragem de sacudir a poeira dos séculos. Com base num plano integrado do governo João Durval.

Entrará Colbert Martins com a incumbência de consolidá-la.

Sabemos que ela será recalcitrante.

Teimará em ficar pelas adjacências como mulher apaixonada que não quer deixar seu homem.

Mas é vida. Viver é estar sempre mudando, se renovando.

Quando se perde essa capacidade é a velhice e a morte.

Tenho visões futurísticas para essa nova feira.

Já a cantei em álbum e folheto de Literatura de Cordel.

Porém não pude deixar de ver o dia chorar ontem.

E, olhando para os feirantes e suas coloridas mercadorias, também chorei.