O primeiro militar a se eleger vereador em Feira

9/10/2017, 9:38h | Arquivo

Na revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, editada em 2012, o decano radialista e jornalista Zadir Marques Porto lembra a figura do sargento Antônio Antunes dos Santos, mais conhecido como “Sargento Aranha”, que teve importante passagem na vida da cidade. Vale a pena ler de novo este texto publicado em  20 de julho de 2012.  (Adilson Simas).

Sargento Aranha “Meu tipo inesquecível”
ZADIR MARQUES PORTO

Um patriotismo que poderia ser medido pela sua própria estatura – mais de 1,95 m, de músculos e vitalidade – aliada às atitudes, ao ponto de dar a um dos seus filhos o nome de Brasil. De aparência irascível, que chegava a amedrontar, na verdade era um bonachão, um homem preocupado com todos os que queriam, sim, um país melhor e um povo com o necessário espírito de civismo. E nessa missão se empenhava tanto que, às vezes, por não entendê-lo, muitos achavam que ele era intransigente e mandão. Sem querer plagiar a seção da tradicional revista Seleções Reader’s Digest, poderíamos incluí-lo em “Meu Tipo Inesquecível”, muito embora só o tenha visto de perto pouquíssimas vezes.

Antônio Antunes dos Santos, pernambucano de Recife, nascido em 15 de agosto de 1920, o eterno “Sargento Aranha”, mesmo depois de ter sido elevado a 1º tenente, foi uma figura que marcou em Feira de Santana. Depois de comandar a Polícia Especial em Salvador, veio para esta cidade, como instrutor do Tiro de Guerra 17 (TG-17) que tinha sede na Praça Dois de Julho, Rua de Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos). Era militar na extensão da palavra. Não admite brincadeiras ou “corpo mole” nas atividades que comandava. O amor à pátria aflorava em cada atitude.

Nos desfiles de 7 de Setembro e 2 de Julho, ou qualquer outro momento cívico, ele estava à frente, liderando, com passadas largas, pisando forte, peito estufado e voz de trovão. E ai de quem não lhe acompanhasse! Fundou a Escola Dois de Julho, com fardamento verde-amarelo, que funcionou nesta cidade e em Conceição do Jacuípe. O conceito era a Pátria e os pais corriam para colocar seus filhos nesse estabelecimento. Antes de vir para a Terra de Santana fora lutador e já com a idade avançada para a prática de luta livre, aceitou o desafio de um pugilista profissional jovem, em nome de Feira de Santana.

Antônio Antunes dos Santos foi professor de Educação Física do inesquecível Ginásio Santanópolis e eleito vereador em 1963, como primeiro militar a chegar a Câmara Municipal. Foi substituído no cargo pelo suplente José Ferreira Pinto. Em 1970 voltou a ser eleito mas renunciou, substituindo-lhe o atual presidente, o advogado e professor Nilton Belas Vieira. Era um brasileiro convicto e não aceitava, em hipótese alguma, que alguém falasse mal de Feira de Santana ou do Brasil na sua presença. Mas era de um coração talvez maior que o seu corpanzil. Emocionava-se a uma demonstração de amor à pátria e fora do rigor das atividades oficiais era um ser extraordinariamente afável.

Promovia torneios esportivos, festas e outros eventos sociais aos quais os jovens acorriam sabedores de que ali haveria ordem e respeito. Os festejos de São João que realizava em sua residência, na Rua Araújo Pinho, até hoje são lembrados com saudade pelos jovens daquela época. Fartura em bolos, canjica, milho verde, amendoim, licores, muito forró, onde surgiam namoros respeitosos. Sair da linha, nem pensar! No esporte também marcou. Apaixonado pelo futebol construiu um campo, em frente ao atual prédio do Empresarial Rosilda Dantas, na Avenida João Durval. Mas a gurizada tinha que estudar para jogar no time do “Sargento Aranha” que não gostava de perder.

Há fatos no mínimo hilários corridos no futebol, envolvendo esse patriota sem igual. Jogo Duro no Campo Dois de Julho com o time do Sargento, que também era o juiz, empatado em 0 x 0. Apito final e a garotada deixando o campo quando um apito forte e o vozeirão do sargento se faz ouvir:

- Volta todo mundo.

E a meninada sem entender pergunta o motivo e Aranha no seu tom incontestável:
- Esqueci de marcar um pênalti! – naturalmente, para o time dele.

O goleiro adversário debaixo da trave e o jogador do Dois de Julho, escolhido para a cobrança, nervoso com a responsabilidade, deu um violento chute para longe.
- É tinha que ser empate mesmo -, balbuciou Aranha, enquanto deixava o campo.

Em outra oportunidade, durante um jogo no Campo da Usina de Algodão, que ficava próximo ao atual Colégio General Osório, no início da Rua Castro Alves, também estava empatado quando um atacante, depois de bela jogada, chutou muito forte e a bola passou raspando a trave defendida por Branco, excelente goleiro, apesar da baixa estatura. Aranha acompanhou o lance e saiu correndo para o meio de campo. Como era natural, o goleiro protestou:

- Foi pra fora Sargento.

E Aranha categórico: “Mas se fosse dentro você não pegava!”.

Muitos e muitos outros casos engraçados ocorreram com o espirituoso Sargento Aranha, mas nada comparável ao seu patriotismo, ou seu espírito militar, ao seu amor pela família e aos valores morais.

Aliás, por tudo que representou para a juventude da época, Antônio Antunes dos Santos, até hoje está a merecer um maior reconhecimento da terra que ele tanto defendeu.